Escrever é tocar alguma coisa. Uma coisa que às vezes é macia, mas que às vezes fere, até ferir tantas vezes que um dia o machucado fica tão grande que é preciso parar e cuidar da mão. Escrever acontece. E em alguns períodos acontece com tanta frequência que é preciso dar um passo atrás, antes que se adoeça do oco que se sente entre a linha um e a linha dois. E existe o cansaço físico de transformar letra em sentimento e sentimento em letra, porque é impossível equilibrar a limitação das palavras com a adorável ilimitação da vida. Escrever adoece. O pulmão, o coração, o peito e qualquer parte sensível que não aguente o sufoco de vibrar numa rima e morrer na outra, repetidamente. Escrever é uma troca. E sempre faz bem para os dois lados, mas não é saudável usar o ombro de quem lê para enxugar as lágrimas de quem escreve. Por isso, é preciso respeitar a ausência, sem achar que a falta da coisa escrita é a falta da própria pessoa que escreve. É preciso absorver o vazio, sem precisar recorrer à última gota de poesia, porque esta nunca se deve tirar do sangue que passeia no corpo. E, por fim, é preciso aceitar, com doçura, o silêncio, sem nenhum sentimento de perda, mas acreditando que, com ele, se ganha outra coisa. Outra coisa que engrandece. Outra coisa que não está escrita. E que nem precisa estar.
Há 10 anos
3 comentários:
Cah
É isso aí, escrever é minha salvação tantas e tantas vezes...mas verdade seja dita:as vezes eu preciso do silêncio das palavras.
Milhões de beijos
Que lindo. Hoje, escrever para mim mexe em feridas antes deixadas de lado para cicatrizarem, algumas eu encontro do mesmo jeito e outras não encontro mais, acho que ajuda, as vezes machuca também, eu nunca sei. Adorei seu texto.
Escrever é pensar tão alto que ecoa eternamente..
Tanta gente lê que nem imaginamos, e tocamos de maneiras diferentes pra cada um!
Escrever e ler é comunicação perfeita, um mundo para cada leitor!
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