Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez
aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira
dessas águas. Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria,
e dói. Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso
parece pobre, triste e sem sentido. Amar era tão infinitamente melhor; curtir
quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico. Não queremos escutar essa
lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às
vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada
é só o que nos resta. Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e
ficamos quase sem sonhar. Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta
pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que
nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. Mas quem nos amou, se talvez
nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambigüidade e mutação, este
silencio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus
acenos."
Lya Luft
Há 11 anos
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