quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Você, Eu?

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“Um dia a gente chega mais perto de ser, aquilo que realmente se é… e não se assuste se ao olhar ao redor não restarem muitos, pois corajosos são aqueles que permanecem ao lado de quem é de verdade” Lya Luft

Você é solteira. Você trabalha e é muito competente diga-se de passagem. Você é divertida. Você tem um papo legal. Você é inteligente. Você não curte drogas. Você é bem nascida (pobre mas em uma família que deu a base necessária). Você é desinibida. Você vive de bem com a vida. Mas você pensa que tudo isso não basta. Então, você cria personagens pra si mesma. Inventou uma super-mulher que não existe. Inventou uma armadura invisível pra se defender de alguma coisa que nem você sabe muito bem o que é. Você tem medo de se envolver com as pessoas erradas e acaba se envolvendo com as pessoas que não se envolvem também.
E, pra cada história, um personagem. Pra sua família, você é descabeçada. A péssima aluna na época de colégio, a do fundão, bagunceira, sempre reivindicando alguma coisa e não aceitando as regras impostas no colégio militar. A filha nada exemplar. A garota mimada que teve que aprender na marra sobre valores. Pros seus amigos, você é a queridinha. Você está sempre pronta pra ajudar. Você resgata sua amiga de uma enrascada às 3h da manhã, bêbada. Você atende o celular no meio da noite quando sua outra amiga te liga em prantos. E você sai de onde está porque alguém precisa da sua ajuda. Você é sempre sorrisos. Sempre aquela pessoa alegre que fala bobagem e diverte as outras.
E, pro seu ficante, você criou uma mistura de mulher fatal, Moderna, mas com caráter e objetivos. Desinibida. Que desenvolveu uma espécie de "corpo-delivery". Ele liga e você vai. No strings attached. Você é a incansável, porque estar com ele simplesmente não cansa, vicia. A que volta pra casa sozinha às 3h30 da manhã. Que faz cara de paisagem quando diz que adorou a noite e ele responde um “também” quase mudo. Como se não se importasse. Você elogia o cabelo dele quando, na verdade, gostaria de dizer “cara, você é bacana”, “cara, você me vale a pena”. Você pede pra ele te levar embora quando simplesmente poderia pedir “me abraça”. Você tenta desistimular suas manifestações de carinho, não quer que ele note que você é simplesmente louca por ele. E, agora, está presa ao personagem que criou pra si mesma.
Você é exatamente o que as pessoas esperam de você. Você fala o que elas querem ouvir. Você faz o que elas esperam que você faça. Você se comporta da forma que elas esperam que você se comporte. Você cansou de dar a cara pra bater e resolveu brincar de ser outra pessoa. De encarar um novo papel a cada nova situação. Você analisa a pessoa, descobre o que ela espera de você e puf! Você se transforma exatamente naquilo.
E, numa bela manhã, a ficha caiu. Seu mundo caiu. Você descobre que voltar pra casa, morta, não é o que você queria estar fazendo naquele momento. De novo aquela sensação de estar fazendo tudo errado. Você até seguiu seu coração. Dispensou todos os que gostariam de estar com você pra ficar com o cara que você queria. Fez exatamente como queria ter feito. Então, de repente, você mesma entra em ação e põe tudo a perder. Você veste o personagem e é como se você fosse só aquilo. Você montou toda a cena, apesar de não ter o mínimo controle da situação.
Talvez, então, seja a hora de deixar cair a máscara. De pedir licença ao público pra ser você mesma. De se permitir errar quando tenta acertar. De mostrar pros seus amigos que, às vezes, é você quem precisa de ajuda no meio da madrugada. Que você não é só sorrisos, tem hora que você chora. Que você gosta de colo também. Que você gosta quando as pessoas são fofas com você . Que você não é esse furacão 24 horas por dia. Que você dorme sexy e acorda um lixo. Que você odeia se sentir só mais uma. Que você, às vezes, você também sente medo de não ser boa o suficiente pra ele. Que você pode ser a perfeitinha, a louca, a Sharon, a Madonna, a Britney e até a Madre Tereza de Calcutá, mas ainda assim, você continua sendo você. Imperfeita. Única. Cheia de qualidades e defeitos só seus. De saco cheio das pessoas comprarem seus personagens. De saco cheio de acreditar nos próprios personagens que criou pra si. E cheia de vontade de jogar tudo pro alto.

Tem dias que uma boa chuva de água sanitária borraria toda essa maquiagem e deixaria aparecer o que você é, goste quem quizer, ame quem tiver coragem. E o melhor de tudo, é que a maquiagem borrada não seria só a sua.

Graças a Deus que um dia só tem 24 horas, e todos esses pensamentos serão apagados amanha, pois cada vez que a cabeça encosta no travesseiro, o sono chega com a mensagem de formatação de 100% concluída, e amanha, é sempre um dia de deixar mais um personagem pra trás e se tornar, um pouco mais o que realmente você é.

Quaisquer semelhança encontrada no desabafo, é mera coicidencia... ;)

Um comentário:

Angélica Medeiros disse...

Adorei o texto amigaaaa.
bjo